Por Juliana Baron: na vida ou você caça, ou vira caça.

E nesse final de semana eu fui ao casamento de uma grande amiga. E sua mãe, sempre ótima com as palavras, leu durante a celebração, um lindo texto que escreveu e que só confirmou a minha visão dos casamentos de hoje. Nele, ela dizia basicamente que percebe nos jovens uma maneira diferente de enxergar a união pelo matrimônio. Que eles casam fazendo uso do seu poder de escolha, o que torna os seus casamentos, algo mais verdadeiro e consequentemente, mais passível de durar. E foi justamente isso que aconteceu na minha vida, por exemplo. Como vocês sabem, apesar de eu já morar junto e de já ter um filho, há pouco mais de um mês, casei oficialmente. E como sempre costumo dizer, casamos por escolha nossa, como forma de confirmar e agradecer nosso amor, porque na verdade, já nos considerávamos casados.

Só pra ilustrar um pouco o texto. Adoro o canal GNT, e como pessoa apaixonada por observar as pessoas e seus comportamentos, desde que começou a série “Sessão de Terapia”, viciei e não perco nenhum episódio. Durante a nossa viagem de lua de mel, descobri a existência do Muu, uma espécie de site que possui os episódios completos de alguns seriados. E assim, consegui manter atualizado esse meu vício. Mas o que eu quero dizer com isso, é que um dos pacientes do programa, é o próprio terapeuta, que faz um tipo de supervisão, consultando-se com outra terapeuta toda semana.  E como ele esta em crise conjugal, nos últimos episódios, tem ido à sua terapia, acompanhado da sua esposa. No último episódio, eles meio que descobriram que o que vem abalando seu relacionamento, é o fato de eles terem trazido “problemas” de antes mesmo do casamento. Cada um, com toda a sua bagagem de vida, como modo de criação, exemplo do modo como seus pais se relacionaram, trouxe consigo alguma incoerência, lacuna e carência. E como de costume, assim que se casaram, engataram no automático e foram vivendo sem se auto questionar, sem se auto analisar com relação àquilo que queriam para si, independente do que esperavam do outro.

E então que fazendo a ligação entre o discurso da mãe da minha amiga e esse exemplo do casal em terapia, percebi que antigamente, ao meu modo de ver, as pessoas, especialmente as mulheres, não tinham o costume, e acho até que, nem tinham a liberdade de se questionarem sobre o que queriam para suas vidas. Era comum que, assim que se formava na faculdade (para aquelas que tinham essa oportunidade), ou saía da escola, a mulher logo se casasse, tivesse filhos, talvez trabalhasse e pronto. E o que eu vejo que acontece muito hoje, é que essas mesmas mulheres, que foram inseridas nessa ordem comum e até “necessária”, quando se veem sem os filhos, pois os mesmos já estão crescidos, e envoltas em todo um sistema de “liberdade” e cobranças de “ser feliz e independente” que se propaga nos dias de hoje, ficam um pouco perdidas e confusas com a camisa que vestiram durante toda uma vida. Ou foram mães demais e esposas de menos, ou se esqueceram de si em prol da família, ou se deixaram levar pela situação e largaram uma faculdade e emprego de que tanto gostavam.

E a relação que eu faço, com a visão que tenho da maioria dos casamentos de agora, é a de que hoje, mesmo que digam que essa é uma instituição falida, mesmo que divórcios sejam cada vez mais comuns, mesmo que muitos associem erroneamente a questão da liberdade com a escolha de não se casar, muitos jovens estão subindo ao altar. E eu acredito que em grande parte dos casos, eles o estão fazendo por escolha, por vontade própria.

Sempre bato na tecla de que não existe metade da laranja. Adoro o que diz a personagem Mercedes do filme “Divã”. Não devemos querer ser a metade da laranja de ninguém e sim, ser uma laranja inteira. Porque para os que buscam no casamento, a solução de algum problema particular, a separação no futuro, ou um casamento sem vida, há de ser uma coisa quase certa. Pois uma pendência nossa, como pessoa, pode até ser resolvida a dois ao longo da relação, desde que tenhamos a consciência de que ela é nossa e não esperar que no outro esteja a solução. Mas o que acontece muito é justamente a transferência de algo que já estava mal resolvido para a figura do companheiro. E então, depois de algum tempo, você tem a certeza de que toda a infelicidade que sente é culpa do outro. Porque ele não lhe deu atenção, porque não valorizou tudo o que você fez, porque não foi o companheiro que você esperou.  Só que o que as pessoas esquecem, é que um casamento é feito de duas pessoas. Sabem aquela máxima que diz que “um não faz o que dois não querem”? É tão mais fácil jogar no outro a sua falta de atitude ou a sua comodidade. E não é que existam culpados no fim de um casamento, mas é que não existe culpado nesse enredo todo. Pareceu confuso? Mas essa era a intenção. Não é que você seja uma espécie de culpado por não ter percebido que também fazia parte das ausências da relação, ausência de conversa, ausência de compreensão, ausência de tolerância, mas é que o outro também não fez por querer, conscientemente.

E também não pensem que eu estou dizendo que precisamos entrar num casamento, zerados de problemas, super bem resolvidos e cem por cento felizes. Mas que saibamos identificar aquilo que já trouxemos da nossa vida pré-casamento. Que tenhamos a coragem de buscar ajuda no momento que algo parece não ir bem e reconhecer que também fazemos parte disso.

E é por tudo isso que eu digo perceber que, apesar de hoje o nosso mundo andar um tanto superficial demais e profundo de menos, hoje escolher se casar me parece ser um ato mais verdadeiro, fruto de uma vontade que realmente vem de dentro de nós. Porque por mais que a nossa sociedade esteja mais imediatista e às vezes, até amoral, o casamento já não é mais etapa obrigatória na vida de ninguém. Sim, eu sei que nós mulheres continuamos românticas convictas e mesmo dispondo de toda a liberdade e opções de escolha de formas de viver, ainda esperamos encontrar o nosso príncipe encantado no final da história. E não há nenhum mal nisso, porque realmente é muito bacana termos com quem dividir os nossos anos. Mas acredito muito que hoje encaramos mais a figura do outro, como alguém que nos fará companhia, como alguém com quem compartilharemos as delícias e as angústias de viver. E não como uma pessoa perfeita, que pagará as contas, que existe somente para nos completar, que tem o dom de nos fazer feliz e de tapar nossos buracos, para ser alguém que suprirá todas as expectativas que fazemos de nós mesmos.

Será que estou errada? Bom, pelo menos eu procuro enxergar o meu marido dessa maneira. E você? Já pensou como idealiza o seu companheiro?

Adoro o exemplo que a minha terapeuta de grupo deu uma vez sobre como muitas vezes não paramos pra pensar nas nossas escolhas, mesmo as mais simples. Quando você chega num buffet de comida, costuma se questionar antes sobre o que esta com vontade de comer ou vai escolhendo conforme as comidas vão surgindo?

Associou? Quando você esta à procura de um companheiro, para pra pensar naquilo que você quer para si ou vai escolhendo conforme as opções vão aparecendo? Não que você precise fazer uma lista de como quer que seja o sujeito. Mas você já enumerou quais as características, valores, ideais de vida, considera importantes em alguém? Ou você prefere nem pensar nisso e depois de um tempo e de ter se deixado escolher por alguém, perceber que aquela pessoa não tem nada a ver com você? Porque, desculpem a analogia, como eu aprendi esses dias e adoro repetir, na vida ou você caça, ou vira caça. Ou você faz as suas próprias escolhas ou alguém escolherá por você.

Fica a reflexão.

Boa semana.

Beijo beijo

2 respostas em “Por Juliana Baron: na vida ou você caça, ou vira caça.

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